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O recente anúncio da saída de Jacinda Ardern do cargo de primeira-ministra da Nova Zelândia foi recebido com surpresa, tanto em seu país, como por seus admiradores ao redor do mundo. Após mais de cinco anos no poder - e tendo tido uma bebê durante o período - ela renunciou ao cargo essa semana. Sua justificativa é de que não tem mais a energia necessária para comandar o país. Segundo ela, “Estou saindo porque com um trabalho tão privilegiado vem uma grande responsabilidade. A responsabilidade de saber quando você é a pessoa certa para liderar – e também quando não é".
Falamos muito sobre a importância da determinação, da perseverança, da resiliência, da tenacidade. Sem dúvida, qualidades fundamentais para se atingir objetivos e ir mais longe, e que fizeram de Jacinda uma grande líder e referência para tantas outras mulheres.
Por outro lado, falamos muito pouco sobre a importância de desistir. De parar, de falar não. E a verdade é que a mesma determinação que nos faz persistir em coisas que valem a pena, muitas vezes nos cega, insistindo em coisas que já não valem a pena. Jacinda nos mostra que tão importante quanto saber quando persistir, devemos saber quando desistir.
Terminei recentemente o livro Quit (ainda sem tradução para o português), de Annie Duke, especialista em processos de decisão e ex-jogadora profissional de poker. Segundo a autora, temos um viés inconsciente contra desistir. Afinal, “desistir é para os fracos”. E com esse pensamento, seguimos em frente com projetos que já não fazem mais sentido. Vamos atrás de metas projetadas em cenários que já mudaram. Ficamos em empregos que já não nos fazem felizes.
Um exemplo que a autora traz no livro é a nossa resistência contra abandonar projetos que começamos. E se fomos nós que os criamos, o apego é ainda maior. Recebemos todos os dados e sinais de que aquilo não deve ir pra frente, mas insistimos. Em vez de parar, investimos ainda mais tempo e recurso para tentar salvar a nossa ideia. Em vez de assumirmos o “sunk cost” (do inglês, custos irrecuperáveis), aumentamos o nosso comprometimento com algo que não vai pra frente. Como o empreendedor que torra até o último centavo que tem em caixa, em vez de fechar a startup e devolver aos investidores o que sobrou do investimento. Ele já sabe que o negócio não vai virar - mas acha que precisa tentar até o fim.
Certa vez, no km 16 de uma meia-maratona, machuquei meu joelho. Terminei a prova chorando de dor, mas fui até o fim. Faltava tão pouco! Essa persistência, que me ajudou a chegar no meu objetivo, me custou três anos de recuperação e inúmeras sessões de fisioterapia. Arrisquei uma lesão mais séria, só porque tinha uma meta, porque não queria desistir.
Achamos que persistir é sinônimo de força de caráter.
E assim, corremos até o fim da prova, mesmo quando o nosso corpo diz para parar. Passamos anos em relacionamentos (com pessoas ou com empresas) que nos fazem mal, ambientes tóxicos, valores que não conversam com os nossos. Mesmo nas pequenas decisões - parar de ler um livro, sair do cinema no meio do filme, não terminar um prato que não gostamos. Continuamos, simplesmente porque não queremos tomar a decisão de desistir.
A reflexão que Annie Duke traz no livro, e que me veio à mente quando soube da saída de Jacinda, é que não decidir sair é decidir continuar. Ficar até o final do filme implica na perda de algumas horas que poderiam ser usadas para outra atividade que te deixaria mais feliz, mas provavelmente tem um impacto pequeno na sua vida. Mas ficar em um emprego que já não te faz feliz é decidir não usar seu tempo e energia em outro lugar ou atividade. E o exemplo de Jacinda mostra como é importante se ouvir para saber quando persistir e quando desistir.
Mais do que tudo, acredito que precisamos atualizar a nossa definição de sucesso. A vida é muito curta, e talvez sucesso não seja ir até o fim, mas sim se colocar em primeiro lugar e desistir daquilo que não te faz bem.
E com essa decisão, Jacinda é mais uma vez exemplo e inspiração. Porque desistir é para os fortes.
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